quarta-feira, 24 de junho de 2009


O MUNDO LOUCO DE SELTON MELLO .


Que ele começou a atuar ainda criança todo mundo sabe. Agora, aos 36 anos, o incansável mineiro já dirigiu seu primeiro filme, trabalhou em inúmeras produções nacionais, apresentou e continua estendendo seus domínios no cinema brasileiro. Diretamente da Espanha, onde foi gravar Lope, o novo longa de Andrucha Waddington, Selton Mello falou sobre tudo isso e mais um pouco .


O ator, como o poeta, é um fingidor. Selton Mello é um ator, portanto ele é do tipo que finge que é dor a dor que deveras sente, e vem fazendo isso desde criança. Sem descanso, na loucura e com o coração na ponta da câmera. Nos últimos dez anos, o mineiro vem se dedicado quase que exclusivamente ao cinema, com direito a campeões de bilheteria como O Auto da Compadecida (2000), Lisbela e o Prisioneiro (2003) e Meu Nome Não é Johnny (2008). E que nos perdoem Wagner Moura, Lázaro Ramos e Matheus Nachtergaele, mas Selton Mello é o cara do cinema brasileiro dos anos 2000.



Entre dramas e comédias escrachadas, o ator recentemente ainda estreou como diretor no elogiado Feliz Natal, seu programa Tarja Preta ganha nova temporada no Canal Brasil em setembro e as salas de cinema recebem quatro filmes estrelados por ele: Jean Charles, de Henrique Goldman; A Mulher Invisível, de Cláudio Torres; A Erva do Rato, de Júlio Bressane; e Federal, de Erik de Castro. Segue abaixo uma entrevista que o ator deu com exclusividade à MONET direto da Espanha, onde foi filmar Lope, o novo trabalho de Andrucha Waddington. Moral da história: Selton Mello não para e nem quer.



O que há de bom e de ruim em ter começado tão cedo na profissão?


De ruim tem um cansaço precoce. Já estou quase me aposentando [risos]. O lado bom é o valor do trabalho, da conquista suada, de ver a estrada que percorri com meus méritos. Acertando em cheio aqui, metendo a cara na parede acolá, mas sempre trilhando a minha história e arcando com as minhas escolhas. Sou um sobrevivente. Começar tão cedo pode ser sublime, pela experiência adquirida, e também um pesadelo, se não tiver uma estrutura familiar que o ampare. Fica aí a dica para a menina Maísa [risos].



Depois de tanto tempo trabalhando, você consegue ver alguma linha condutora nas suas escolhas?


Não teve uma fórmula, sou bastante intuitivo nas minhas escolhas. Fui feliz e quebrei docemente a cara em circunstâncias distintas. Mas tenho um orgulho de um pai que olha para seus filhos e se identifica com cada um deles. Sou todos os personagens que interpretei e sou nenhum. Essa é a grandeza da minha profissão.



Imagino que com o Tarja Preta você se encontrou com muita coisa e muita gente do cinema e TV que talvez não tivesse conhecido de outra forma…


O Tarja Preta foi minha faculdade teórica de cinema. Entrevistei mais de 100 artistas e assisti a filmografia de todos eles. Poderia participar de um quiz show sobre cinema brasileiro. Pude detectar as diversas formas de expressão, as fases tão diferentes de nosso cinema. Atlântida, Vera Cruz, Cinema Novo, Cinema de Poesia, Chanchada, Pornochanchada, Retomada… Fui alimentado por muita coisa, enchi os olhos, me abasteci de cinema brasileiro até vazar pelos poros. Inevitável que eu tenha partido para a aventura de realizar o meu Feliz Natal. Era muita coisa represada que precisava ser canalizada para uma forma própria de contar uma história. E acredito que consegui fazer com que o público também se encantasse com todos os meus entrevistados. E com isso pude colocar um refletor sobre pessoas tão fascinantes e que ajudaram a construir o cinema brasileiro.



Dirigir mudou o seu jeito de atuar?


Quais são os diretores que mais te influenciaram?Dirigir expandiu minha visão sobre a arte. Cinema é palavra, imagem, som, poesia e realidade. É um sonho a 24 quadros por segundo. Não sou o mesmo depois de viver essa experiência. Sobre os diretores… Aprendi com todos que me guiaram nesses trabalhos… Guel Arraes, Luiz Fernando Carvalho, Carlos Reichenbach, Walter Lima Jr., e outros mais jovens, como Lírio Ferreira, Mauro Lima, Heitor Dhalia, Cláudio Torres e tantos outros. O desafio é encontrar o seu estilo, a sua pegada, a maneira de ver não apenas o cinema, mas a vida. Não separo uma coisa da outra. Arte e vida andam de mãos dadas.



Em algumas entrevistas durante o lançamento de Feliz Natal você afirmou que daria um tempo na atuação. Como está isso pra você?



Realmente parei por um tempo. Entrei em um período de focar mais na vida como ela é e, diga-se de passagem, a vida é bem dura. Trabalhar menos e viver mais. Para um capricorniano insano não é da noite pro dia que consigo isso, mas já mudei o rumo do barco. E como fiz muitos trabalhos que não estrearam, a impressão que se tem é que estou trabalhando muito agora, mas isso não é fato. Tenho feito coisas mais curtas por agora para, aos poucos, encontrar o novo ritmo que estou a fim de dançar.



O que é atuar pra você? E dirigir?


Atuar é ser criança. Se divertir e se assombrar, contando umas mentiras de uma forma convincente. Dirigir é proporcionar aos seus atores que se divirtam e se assombrem, contando umas mentiras de uma forma convincente.






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