quarta-feira, 17 de junho de 2009


APÓS TROPEÇOS , BEM AFFECK VOLTA Á BOA FORMA .


Após amargar tropeços na carreira e virar chacota no mundo das celebridades, Ben Affleck mostra que é possível ir ao inferno e voltar com uma boa história para contar. Sentou-se pela primeira vez na cadeira de diretor no bem falado Medo da Verdade, estrela junto de Russell Crowe o filme Intrigas de Estado e volta ao radar dos grandes estúdios
Não existe fórmula para o sucesso.


Taí um grandessíssimo clichê, uma obviedade sem tamanho. Mas essa talvez seja a melhor expressão para definir astros como Ben Affleck. Em 1997, aos 25 anos, ele recebeu, ao lado do amigo de infância Matt Damon, o Oscar de roteiro original por Gênio Indomável. A história do garoto com enorme talento para a matemática – mas nenhum traquejo social – agradou à Academia e fez Hollywood apostar todas as fichas nos dois. Damon engatou produções como O Talentoso Ripley, Syriana e a trilogia Bourne, e conquistou respeito de seus pares. Affleck estava num outro caminho, mas que parecia certo também.


Depois da estatueta, esteve em produções premiadas, como Shakespeare Apaixonado, e investiu em blockbusters da pesada, como Armageddon e Pearl Harbor. Mas em algum ponto tudo desandou. Sucessivas escolhas erradas, o desastroso relacionamento com a cantora Jennifer Lopez e atuações massacradas, como a do campeão do Framboesa de Ouro (aquele premiozinho que escolhe os piores do ano no cinema), Contato de Risco, deram à carreira de Affleck um certo ar de decadência, que desde então ele vem tentando modificar.


A campanha para “limpar a barra” vem dando certo e tem rendido bons frutos. Um dos melhores exemplos é o longa Medo da Verdade, que colocou o ator atrás das câmeras, dirigindo e escrevendo o roteiro, e que estreou em junho na HBO. Casey Affleck (de filmes como O Assassinato de Jesse James e Onze Homens e Um Segredo), irmão de Ben na vida real, interpreta Patrick Kenzie, detetive particular que é contratado para investigar o sumiço de uma garota em um subúrbio de Boston. Acostumado a lidar com pequenas investigações, ele e sua parceira Angie (Michelle Monaghan) passam a enfrentar traficantes e a própria polícia para descobrir o paradeiro de Amanda (Madeline O’Brien), filha da viciada em drogas Helene, interpretada pela atriz Amy Ryan, que aliás foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante e ao Globo de Ouro pelo papel, em 2008.



“DRAMA É O GÊNERO NO QUAL ME SINTO À VONTADE. É UM TERRENO EM QUE SEI ME LOCOMOVER BEM”



Em seu primeiro longa como diretor, Ben Affleck preferiu esquecer o passado recente e investiu naquilo que sabe fazer, como ele mesmo explica. “Drama é o gênero no qual me sinto mais à vontade. É um terreno em que sei me locomover bem. E acho que todo bom drama tem um humor involuntário, como acontece em Medo da Verdade. Aquela situação toda, a maneira como os personagens reagem, aquilo carrega, de alguma forma, um humor.” O ator se refere aos desvarios de Helene e ao inocente pedantismo de Patrick, que, apesar da boa-fé em ir atrás da menina sequestrada, entra de gaiato em um plano que envolve gente graúda.


Seu próximo projeto como diretor se chama The Town, sobre um triângulo amoroso formado por um ladrão, uma gerente de banco e um agente do FBI. “Quero fazer algo totalmente diferente de Medo da Verdade, não pretendo ficar me repetindo. Decidi abrir o filme com uma grande cena de ação, um roubo alucinante. A única coisa em comum é que também vai se passar em Boston”, conta Affleck, que nos últimos anos vem atuando menos do que o habitual. Mas ele esclarece: “Não vou deixar de ser ator, simplesmente precisava de um tempo”.


CABELOS BRANCOS – A folga imposta por ele mesmo acabou e agora o astro tem investido em papéis mais densos. Seu mais recente trabalho é o thriller Intrigas de Estado, que estreia nesta próxima sexta-feira, dia 12. O astro assume seus cabelos grisalhos para interpretar Stephen Collins, senador norte-americano que passa a ser investigado depois que sua amante morre em um acidente no metrô. O caso extraconjugal se transforma em uma crise política e vai parar nas manchetes de jornal, para desespero do político. Seu único apoio é o repórter investigativo Cal McAffrey (Russell Crowe), amigo de muitos anos, que fica dividido entre a apuração jornalística do caso e seus laços de amizade com Collins. Dirigido pelo britânico Kevin Macdonald (de O Último Rei da Escócia), o filme é uma adaptação da série homônima produzida pela rede BBC em 2003 e levanta uma discussão sobre os limites morais do jornalismo. É aquela velha história que todo mundo já discutiu numa mesa de bar: até onde vai o poder e o direito de se divulgar uma notícia, ainda que sem provas definitivas, para garantir o “furo”?





“Não sei julgar direito isso, e nem acho que o filme quer fazer julgamentos. A questão principal é perguntar se a mídia está promovendo um serviço ou um desserviço à população. Se os repórteres estão apurando direito para divulgar boas histórias ou se o que eles fazem é apenas fofoca para alimentar tablóides”, diz Affleck, tocando em um ponto delicado. Então ele classifica esse tipo de jornalismo como ruim? “Não posso falar, nunca trabalhei em uma redação e não sei a pressão que vocês sofrem. Acho que a internet está colocando muito veterano para suar, mas isso não é desculpa para uma busca desleal por informações que não são reais. A tecnologia está aí, vamos evoluir de forma saudável, acho que os bons repórteres continuarão tendo espaço, sempre”, defende, com a habilidade de quem não quer sair mal na fita.






Sobre suas inclinações políticas, Affleck diz que não pretende mais se envolver em eleições, como em 2000, quando trabalhou ativamente na campanha do então candidato Al Gore, derrotado nas urnas por George W. Bush. “Tentávamos levantar fundos para a campanha e, depois de um tempo, vi que era um trabalho muito mais burocrático e mecânico do que político. São pessoas que admiro, mas não é um estilo de vida que quero ter. Acho que não tenho vocação para isso. Meu talento é outro”, diz. Da vida de casado e das duas filhas com a esposa, a atriz Jennifer Garner, ele não deixa escapar um pio. Aprendeu que esse ramo é perigoso e pode lhe render apelidos indesejados, como “Bennifer“, da época em que namorava outra Jennifer, a Lopez, popstar que fez do relacionamento um espetáculo. “Só quero me manter longe dessas fofocas todas.” Para todo mundo, vale o princípio: é melhor trabalhar mais e falar menos. Mas essa é uma lição que geralmente se aprende quando se tem uns cabelos brancos para exibir.


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