terça-feira, 16 de junho de 2009


RECORD , DO CEÚ AO INFERNO .


Por Cássio Rauédys, colunista do TVFOCO

…As quedas continuam, as novelas já não marcam mais como antes, mal conseguindo chegar aos dois dígitos no IBOPE. O jornalismo sensacionalista não rende os altos índices como antes, , tudo é arranjado de última hora, hoje temos a impressão que tudo na Record é improvisado, sem planejamento…


Sorrateira, meticulosa e ousada, a emissora mais antiga em atividade no país começa uma revolução no marasmo na televisão brasileira. Investimentos milionários, grandes contratações e a obsessão de destronar a Rede Globo fizeram com que a Rede Record ganhasse espaço e superasse o simpático, porém acomodado SBT. Por não possuir uma identidade na cultura brasileira a Record usa a estratégia mais ousada já utilizada nas TVs mundiais: copiar a líder. E foram necessários 4 anos para que o Brasil, finalmente reconhecesse essa emissora e a tornasse vice-líder.



Seus investimentos em dramaturgia, em jornalismo, esporte e entretenimento conquistou o público paralelo a Rede Globo, que se dividiam na Band, na RedeTV! e principalmente no SBT. As pessoas estavam cansadas das inquietações e inconstâncias de Silvio Santos e sua grade indefinível, cansados de novelas mexicanas e programas bizarros. Por outro lado havia um público decepcionado com a Globo e sua previsibilidade, queriam mais ousadia, queriam ação e foi justamente no Velho Oeste ( Bang-Bang ) que a porta da concorrência foi aberta, e a trama das crianças seqüestradas ( Prova de Amor ) com uma equipe praticamente Global conquistou o país e deu a Record a oportunidade de mostrar-se ao Brasil.



Um período de ouro agraciou a Record, chamou a atenção, chegando até mesmo à revista VEJA, que dedicou a capa para o confronto que parecia surgir: Globo X Record. O programa Hoje Em Dia foi destaque em incontáveis meios de comunicação, Vidas Opostas esteve constantemente nas rodas de conversas e o Domingo Espetacular tornou-se referência no horário. O castelo da Rede Globo de Televisão parecia ruir diante dos ataques da Barra Funda. Se a emissora dos Marinhos se beneficiou da Ditadura Militar, a emissora do Edir Macedo se beneficiava com os espaços religiosos nas suas madrugadas. Virou notícia no mundo, a TV mais poderosa politicamente temia uma concorrente rica e disposta a copiá-la.



Foi construído o RecNov, a fábrica de novelas da Record, que ao decorrer dos anos recebeu investimentos e cresceu absurdamente. Os profissionais da Record animavam-se diante do cenário e com simplicidade batalhavam por seu espaço. Entretanto, parafraseando Maquiavel: “se quer conhecer um homem, basta que lhe seja dado o poder”, e a Record não soube lidar com seu crescimento, tornou-se arrogante e prepotente, esnobou os outros canais e manipulou notícias sobre o seu crescimento. Seus executivos afirmavam que a emissora do Silvio Santos era página virada, nem se preocupavam mais, e propuseram que em 2009 passariam a Globo.
Foram incontáveis notícias nos jornalísticos da casa para promover a “disparada” na audiência, tempo precioso perdido, aliás, não só o tempo, mas a credibilidade também se perdeu. Mas para o recente império começar a retroceder foram necessários verdadeiros “ataques” por dentro e por fora. Na realidade a Record deu um tiro em si mesmo, e o homem do baú aproveitou para acerta-lhe outro. O primeiro tiro foi a produção da 2ª temporada de Caminhos do Coração, a polêmica: Os Mutantes. Que manchou a imagem da teledramaturgia da emissora, perdendo o espaço conseguido com muito suor junto ao público e aos críticos. Sem perder o momento de fragilidade da principal concorrente, o SBT exibe Pantanal, um sucesso da Manchete que chegou a ganhar da Globo no passado. Pronto. Isso foi o pivô da Queda. Como conseqüência, o já quase esquecido SBT entrou na batalha e usou a reprise de sucesso para anunciar seus “produtos” e programas desprestigiados por escândalos voltaram ao segundo lugar (Gugu).
As quedas continuam, as novelas já não marcam mais como antes, mal conseguindo chegar aos dois dígitos no IBOPE. O jornalismo sensacionalista não rende os altos índices como antes, nem as reprises, nem os programas de variedade, muito menos os filmes. A grade perdeu a estabilidade e assemelha-se ao SBT, tudo é arranjado de última hora, hoje temos a impressão que tudo na Record é improvisado, sem planejamento. Porém, uma das exceções, a novela brilhante de Lauro César Muniz, amarga pífios pontos herdados de uma continuação grotesca de um autor cansado e com criatividade desgastada após quase dois anos no ar. Mesmo contra o futebol a dramaturgia da emissora não se eleva. É preocupante. O que aconteceu com o fenômeno? Por que saíram do caminho da liderança?




Além do mais ainda há esperança na recuperação da emissora, bom para ela, bom para o mercado. Basta reavaliar a situação com humildade e voltar o foco para a ousadia, que foi o que fez a emissora ter seus dias de glória.
E por fim a última aposta da Record: A Fazenda. Pelos últimos dados percebe-se que não está agradando na audiência. Uma última carta desesperada antes do fim? Isso o futuro dirá.

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